domingo, 2 de outubro de 2011

FORMAÇÃO CONTÍNUA E DESESTRUTURADA (PARTE 1)*



A trajetória da educação no Brasil carrega consigo profundas feridas ainda abertas, cuja origem remete a tempos longínquos. A cada percurso dentro da história brasileira – contextualizando seus períodos na representatividade do regime de governo da época – o ensino educacional vai adquirindo status de 'sonho dourado' no desenvolvimento do país, principalmente aos olhos daqueles que se dedicam verdadeiramente àquela que deveria ser a maior riqueza de uma nação.

Ao investigarmos o passado, trazemos à tona as raízes desse processo educacional, que tem nos dias de hoje, o grande desafio de se alinhar a uma geração que ao mesmo tempo em que estão conectados numa globalização desenfreada, não encontram ao longo da vida estudantil a sua verdadeira função social. A partir daí temos um acesso contínuo e desestruturado desses estudantes no ensino superior, com o objetivo e a responsabilidade maior de atender as necessidades imediatas do mercado sem o mínimo de formação capaz de diferenciá-los de mais um instrumento técnico de abastecimento.

Compartilho do pensamento do professor Pedro Goergen (2003) sobre o conceito de "formação", quando diz: "entendo-o no seu sentido mais amplo e profundo de conscientização e familiarização com os grandes temas e problemas que envolvem e preocupam o ser humano na atualidade". "A ideia que defendo", continua ele, "é que o dever formativo é parte inerente ao compromisso social da universidade."

Vejo tal conceito como algo intrínseco ao "desenvolvimento integral do indivíduo", como Goergen define bem, antecedendo toda e qualquer profissão. Este mesmo indivíduo ao terminar um curso de graduação, ao receber da instituição de ensino o seu diploma, deveria ouvir desta não apenas o elogio de que será um grande profissional, mas sim, um excelente professor. Essa capacidade que lhe é entregue, ou seja, sua formação, resultará numa reestruturação da própria universidade, colocando este recém-formado como peça essencial na disseminação do propósito docente.

Não defendo aqui a inibição do potencial técnico, criando-se amarras que contrariem o mercado e desarticulem estruturas comerciais construídas e consolidadas, mas um meio para distanciar de forma equilibrada e sem cunho 'ditatorial' o profissional da simples e rasa 'utilidade'.

Acredito na preparação fundamentada do aluno no exercício da reflexão, da argumentação e da didática, tendo em vista os estudantes que ingressarão nesta área de conhecimento, sendo ele um professor, como para o público consumidor dos seus serviços, sendo ele um profissional voltado para o mercado. Aprender para ensinar deveria ser princípio básico, matéria obrigatória em qualquer segmento, definitivamente uma causa nobre, antecedendo e muito, o ato de 'aprender para vender' e para 'se vender'. Ambas são administradas com ênfase na vida de todo profissional que trabalha com design, independentemente da sua ramificação.

Referência:
GOERGEN, Pedro. Universidade e responsabilidade social. In: LOMBARDI, J. C. (Org.). Temas de pesquisa em educação. Campinas: Autores Associados, 2003. p. 101-122.

*Texto originalmente escrito no curso de 'Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior' (Estácio-RJ) para a disciplina 'História e Política do Ensino Superior', ministrada pela Professora Alzira Batalha. Adaptado para o blog.