sábado, 9 de julho de 2011

O DESIGNER, O ATOR E A NOVELA



Lázaro Ramos como designer, é um ótimo ator. O nobre horário das novelas desta vez foi buscar no artista gráfico, o pano de fundo para contar uma história como tantas e tantas outras. Em 'Insensato Coração' é engraçado ver a personagem deste ator passeando pelo 'glamour' da profissão. Aloísio Magalhães, o pai do design nacional, deve estar se remexendo em algum lugar. Não importa o capítulo, o sujeito tira tantas folgas à tarde, tem tantas reuniões, mulheres e encontros que limita-se a sentar na frente do computador já nas cenas do próximo capítulo. A versão que é dada ao ato de ser 'designer' é tão raso quanto um banho de banheira. E de luxo.

É estranho ver como os autores desenham certas profissões com tanta nobreza. Quando alguém me disse, acho que talvez tenha sido minha mãe, que um dos protagonistas seria um designer, confesso que fiquei subitamente curioso a ponto de assistir vários capítulos na expectativa de que algo relacionado a este universo fosse bem explorado. Longe de mim cobrar profundidade num meio com ambições e objetivos direcionados para a audiência mas, a profissão deveria ser levada mais a sério, assim como outras são.

Este ofício, ainda distante e incompreendido pelo grande público ganha uma falsa glamourização e perde aqui uma boa oportunidade de se aproximar daqueles que ainda o enxergam de binóculos. Não penso e não pense que estou iniciando uma carreira como crítico de novelas. Meu interesse é discutir as referências criadas em torno desta profissão, e não importa o meio onde estas estejam, meu dever é contribuir para desmistificá-la, tornando-a acessível e compreensível para que seja (re)conhecida a sua relevância na sociedade. E num país onde tudo que adquire visibilidade no horário nobre é potencializado, uma novela pode ser sim, um veículo importante para gerar conceitos, muito além do simples fato de usar o 'designer' no enredo para divulgar marcas, como aconteceu com a Lukscolor e a Natura.

Lázaro faz o seu papel com maestria, domina seu ofício, trata-se de um grande ator, mas não vive a essência daquilo que interpreta, e longe de ser culpa dele, faz o designer ser um mero coadjuvante diante do protagonismo que a novela impõe. Nobre mesmo, só a cadeira, a mesa e o computador.

Abraços