sábado, 14 de novembro de 2009

VIAGEM AO CENTRO DA TERRA [parte1]



O design tem a capacidade de habitar e interagir com diferentes espaços e áreas de atuação em nosso cotidiano. Um campo pouco discutido no meio acadêmico e profissional – além de pouca visibilidade na dita grande mídia – está no que convencionou-se categorizar como "música underground", e que por puro desconhecimento (prefiro este termo a preconceito), muitos não se permitem ao menos passear pela riqueza gráfica que tal universo possui. Se este for o Heavy Metal, então a descrença é ainda maior.

Discuto brevemente neste escrito a comunicação visual e o potencial imagético deste estilo musical, no qual o design se coloca a serviço da sonoridade daqueles que habitam "mundos abaixo da superfície", que comercializam sua música a certa distância do mainstream. É interessante observar a forma como dialogam graficamente com seu público, e que, vez ou outra, por diferentes motivos, acabam por frequentar as margens da aceitação popular. E a internet tem papel significativo neste processo.

A evolução dos artefatos tecnológicos permite cada vez mais que a comunicação se estabeleça de forma eficaz e independente, indo aos lugares mais remotos. Nesta esfera da música as coisas não são diferentes. Estão todos conectados, antenados com o 'novo', com o 'moderno', seja na maneira de gravar, de disponibilizar a música e de vendê-la visualmente. Tudo com extremo profissionalismo.

É de conhecimento geral que a indústria fonográfica vem sofrendo transformações profundas, nas quais a preocupação em oferecer material valioso, que transcenda a música, está sendo obrigatoriamente levada mais a sério. Enquanto que gravadoras como a Century Media, Nuclear Blast e Roadrunner – expoentes do gênero em pauta - tentam manter seu 'cast' fortalecido, bandas de diversos gêneros e subgêneros dentro da árvore genealógica do Rock e Heavy Metal produzem materiais de alta qualidade, fazendo frente aos artistas mais populares, tanto no Brasil quanto no exterior. E não falamos apenas da técnica em dominar os instrumentos, mas dos conceitos líricos que envolvem a atmosfera de um álbum e, consequentemente, de seu potencial imagético.

Definitivamente o underground deixou de ser um lugar esquecido no tempo. Bom, pelo menos no que se refere a sua autosobrevivência. A evolução lá embaixo é constante, planejada, projetada e, digamos, conceitual. Veja a banda sueca inflames - na ativa desde meados dos anos 90 - como exemplo. O site oficial www.inflames.com foi construído e estruturado de forma que o fã tenha acesso a tudo que ele deseja consumir sobre a banda. A preocupação com a arquitetura da informação é infinitamente superior a de muitas empresas ditas "sérias e comprometidas" com o seu público. Tipografia, cores, texturas, abordagens por meio da identidade visual do último álbum, enfim, cada elemento enriquece a navegação, mantendo o usuário por um bom tempo no espaço online. E não estamos falando de uma banda de apelo popular. A verdade é que este fã defende sua 'marca' favorita, proporciona longevidade e gera resultados comerciais. Existe uma relação de interação e fidelidade mútua.

É difícil para muitos admitir que algo vindo 'do inferno' possui um alto grau de relevância e que pode sim ser levado a sério. Cito outras duas bandas que demonstram o quanto o conteúdo a ser "vendido" é valorizado. A primeira, aquela que foi marginalizada em nosso país por anos até estourar mundialmente com o álbum 'Chaos A.D' em 1993, vender milhões e enfim ser respeitada por aqui. Falo do SepulturaA banda - com mais de 20 anos de estrada - adaptou aos moldes do seu som, duas obras consagradas mundialmente: 'Dante XXI' (2006), baseado na 'Divina Comédia' de Dante Alighieri e 'A-lex' (2009), baseada no clássico filme 'Laranja Mecânica' de Stanley Kubrick, e por sua vez no livro homônimo de Anthony Burgess. Visite o http://sepultura.com.br/pt/, veja a discografia e as artes das capas e repare na trajetória do logotipo. A sua mudança está diretamente relacionada às transformações sonoras e temáticas apresentadas através dos anos. A segunda, uma banda americana chamada Mastodon, cujo álbum de 2004 'leviathan' foi construído tendo o livro de Herman Melville, 'Moby Dick', como referencial temático. Visite http://www.mastodonrocks.com/

O assunto não se esgota, pois este universo é vasto e cabe uma viagem mais longa. Literatura específica sobre o assunto ainda é escassa, apenas surgem aqui e ali livros que abordam portfólios de designers que se aventuram ou se aventuraram pelo tema. É do meu interesse continuar abordando este campo por aqui, contribuindo para a visibilidade do design no Heavy Metal e, quem sabe, atingir níveis interessantes para uma possível publicação em forma de livro.

Amplie seu repertório, e que a viagem continue...


Visite www.cabinfevermedia.com, estúdio do designer e guitarrista da banda Dark Tranquillity, Niklas Sundin. Alta qualidade!


Abraços!