sábado, 9 de junho de 2012

O "SUJEITO DIDÁTICO" E A ANTIDISCURSIVIDADE


Uma vez me disseram que eu era um "sujeito didático". Isso se repetiu em outras ocasiões e então passei a acreditar que, de fato, eu fazia parte do grupo daqueles que conseguiam "transmitir bem uma ideia" em um projeto, de forma que quem a estava "comprando", saía satisfeito. Alguns anos depois, me encontro imerso num processo de desconstrução e reconstrução de conceitos, de questionamentos com viés docente, inclusive quanto aos rumos do meu "fazer design". Aquilo que muitos me diziam lá no início e do qual me orgulhei por um bom tempo, não estava me levando para lugar algum. 

Não fui didático assim como não sou didático, pois tal prática não termina em mim, nem no outro, como se este último finalizasse a relação no momento em que pronunciar "entendi". Esta abordagem perdura em toda e qualquer comunicação pautada na construção de novos saberes e em suas transformações. Considero-me sim, um sujeito em busca de uma formação contínua no exercício dessa prática, baseada na pluralidade, nas diferenças, nas relações interdisciplinares e interculturais, nos valores éticos, na reflexão da própria prática. 

Embora esta área do conhecimento, leia-se design gráfico, goze de uma liberdade por transitar e promover transformações em diferentes cenários socioculturais, o que dá ao profissional da prática projetual a oportunidade da pesquisa, da troca, da construção de conhecimentos e experiências de forma muito ampla, o fato de ser reconhecido de maneira reducionista como o centro da geração de "soluções criativas" e portanto, a necessidade imediata de dar satisfação muitas vezes meramente de competência técnica, ainda a distancia dos argumentos, da expressão textual, dos aportes teóricos que deveriam ser desenvolvidos durante a trajetória acadêmica do designer e posteriores a ela por meio do poder de reflexão do indivíduo. 

Bonsiepe (p. 232)  nos diz que:

"Pela expressão 'comportamento reflexivo' deve-se entender um pensamento formado discursivamente, vale dizer, um pensamento que se manifesta na forma de linguagem. A tentativa de incluir a linguagem num programa de ensino do design vai até os anos 1950. (...) existe uma considerável necessidade de recuperação dos estudos da linguagem de textos, nos programas de ensino, sobretudo na área de comunicação visual. A tradição antidiscursiva e a predisposição antidiscursiva no ensino do design se fazem sentir ainda hoje".

Acredito ser este o grande desafio a ser enfrentado na docência superior na área do design gráfico e na consequente contribuição para a formação de um novo profissional. Que este indivíduo seja mais do que um candidato ao sucesso, mais do que um "sujeito didático". É exatamente neste contexto que reside o trabalho do docente e do profissional do design, imerso num processo de desconstrução e reconstrução, reflexivo, dialético e contínuo.

Referências:

MASETTO, Marcos Tarciso (Org.). Docência na Universidade. Campinas: Papirus, 1998.

BONSIEPE, Gui. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher, 2011.