quarta-feira, 2 de novembro de 2011

FORMAÇÃO CONTÍNUA E DESESTRUTURADA (PARTE 2)*


Durante minha trajetória acadêmica, iniciada pelo curso de Engenharia Civil, onde o 'ser utilitário' é tão resistente quanto os alicerces que sustentam essa profissão, encontrei a liberdade criativa no design gráfico, porém, sem me dar conta, e hoje vejo assim, de que mesmo distante do concreto e das vigas estava tão próximo da 'utilidade' quanto na primeira. 

Ao longo desses oito anos dentro de duas universidades, não fui motivado o suficiente para enxergar um 'sentido' e 'função' além do horizonte do ofício. Em parte, admito uma imaturidade provinciana, que me levou a negligenciar a busca por meios de expandir os níveis apresentados como forma de ser catapultado diretamente para o mercado, mas considero responsabilidade da instituição de ensino garantir ao estudante a possibilidade de contato com conteúdo disciplinar que o faça refletir sobre seu caráter formativo, e não apenas sob o "predomínio da razão instrumental", como o professor Pedro Goergen deixa claro em suas análises e convicções.

E concluo com suas palavras quando diz que "ao mesmo tempo em que a universidade deve produzir competentemente conhecimentos, ela não pode descuidar do olhar crítico, da reflexão acerca do sentido social daquilo que produz", por isso a necessidade de uma disciplina com a abordagem proposta aqui anteriormente. Em suma, os resultados precisavam ser e continuam sendo, necessariamente, imediatos. O império do imediatismo está longe de declinar. Goergen coloca bem a questão da utilidade quando diz que esta é "o novo fetiche, a nova entidade mágica a comandar todo o desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia como motores do desenvolvimento e do progresso".

Trazendo isso para nossa realidade, em âmbito nacional e principalmente em nosso estado, estamos vivenciando um processo que se intensificou logo após a escolha do Brasil como sede dos jogos olímpicos e da copa do mundo de futebol, sem esquecer, e seria leviano da minha parte, do protagonismo que a área petrolífera vem conquistando em grande velocidade. A necessidade do instrumento técnico de abastecimento é clara e evidente.

Diante das questões apresentadas por Goergen e pautadas aqui, referindo-se ao "conhecimento como mercadoria, do produto acadêmico como produto industrial e da universidade como empresa", conclui-se que, em decorrência deste processo, a formação contínua e desestruturada daquele estudante desenhado no início dessas linhas (ver parte 1) está bem longe de ser encarada como um problema. Vejo com urgência que aqueles que encontram-se percorrendo o nobre caminho da docência, e direciono minhas palavras com certo apreço para a área de design gráfico, discutam e disseminem as questões apresentadas aqui para que possamos de alguma forma interferir neste cenário, com a exclusiva intenção de criar novas perspectivas para o ensino superior em nosso país.

Referência:
GOERGEN, Pedro. Universidade e responsabilidade social. In: LOMBARDI, J. C. (Org.). Temas de pesquisa em educação. Campinas: Autores Associados, 2003. p. 101-122.

*Texto originalmente escrito no curso de 'Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior' (Estácio-RJ) para a disciplina 'História e Política do Ensino Superior', ministrada pela Professora Alzira Batalha. Adaptado para o blog.