sábado, 24 de abril de 2010

ANALOGIAS E INTERPRETAÇÕES


Sempre gostei de analogias. Como diz o dicionário: o ponto de semelhança entre coisas diferentes. Falar sobre algo através de linhas de pensamentos que percorrem vastos terrenos distantes da ideia que se deseja comunicar inicialmente. Fugir do literal. Não se trata da famosa 'enrolação' ou do 'falou, falou e não disse nada'. Chamaria de ilustração, um recurso para enriquecer o tema, até mesmo contribuindo para uma melhor percepção e entendimento por parte do leitor e/ou ouvinte. Cito como exemplo as diversas analogias que fazemos - em diversas situações cotidianas - com o futebol. Este esporte ilustra e exemplifica o empenho, objetivos, metas, conquistas que temos diariamente, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Até mesmo nas derrotas. Isso mostra que certos vocabulários estão enraizados em nossa cultura que colocá-los somente em seus lugares de origem é praticamente impossível. Além de perdermos uma boa oportunidade de 'divagar'! Bem, em tempos de copa do mundo então, só dá futebol!

Na minha profissão, gosto de 'brincar' com as táticas futebolísticas - como tantos outros, um amante - mas existe um ofício que aprecio demais o fervor e a intensidade da forma como este se manifesta: atuar. A maneira como o ator interpreta, como constrói o personagem, como se comunica é fascinante. Conhecendo e entendendo o processo que o leva a tal façanha é ainda melhor. Quão rico é ver como a pesquisa foi feita, as referências, os laboratórios, o contato 'na pele' com aquilo que se almeja dar vida, para que o processo de construção seja materializado, ganhe e ofereça 'veracidade' ao público.

Lembro de ter lido em uma entrevista do ator Caio Blat, uma frase que dizia mais ou menos assim: 'o grande ator é aquele que consegue desaparecer no personagem'. Uma ótima definição. A entrega total, aliada a técnica e a sensibilidade de quem e para quem está criando. Temos notícias de atores que se entregam de tal forma que chegam a ganhar ou perder quilos e quilos. Uma imersão que vai muito além dos textos. Christian Bale, conhecido por interpretar o 'Batman', emagreceu tanto (mas tanto!) para fazer o filme 'O operário' (ótimo!!!) que chega a ser surreal o seu estado físico!


Interpretar faz parte deste ofício tanto quanto do design, para quem cria e para quem vai consumir. O processo é o que nos aproxima. É o que valoriza e dá consistência ao trabalho. Sem processo, sem entrega, não existe construção. Existe apenas o improviso. Como os atores, improvisar é um ótimo recurso, salva uma cena, uma apresentação e demonstra capacidade em situações de risco. Mas nada substitui o controle proveniente de um verdadeiro processo de criação. E este, muitas vezes solitário, é o que nos dá confiança para enfrentar o público.
Abraços!

domingo, 18 de abril de 2010

DESIGN COM PIPOCA [2]



Fui ver 'O livro de Eli' e não poderia deixar de registrar mais uma bela atuação de uma marca no contexto do filme. Desta vez temos a 'Motorola', a tecnologia sobrevivente do fim do mundo! Aqui temos outra indicação para o Oscar de melhor inserção de um patrocinador. O filme tem no elenco - além de Denzel Washington -, um grande mestre da arte de atuar: Gary Oldman. É impressionante a sua capacidade de ser 'vilão'! Ótimo ator! Lembro-me de um grande filme, entre vários que ele fez: 'O profissional', ao lado de Jean Reno. Obrigatório!
Bom, voltando ao longa, este conta a jornada de um homem - uma espécie de profeta que caminha pelo deserto por cerca de 30 anos - em um mundo pós-apocalíptico, com o objetivo 'cego' de proteger e levar um livro (a última bíblia da terra) para o oeste. Oldman interpreta um ditador que quer a todo custo tomar posse dessa bíblia para obter o 'poder através das palavras certas'. Seu personagem diz algo como: 'Se fizeram isso uma vez (referindo-se a Cristo, evidentemente), farei novamente. Tudo que preciso saber encontra-se naquelas páginas'.
'O livro de Eli' tem muito de 'Mad Max', sem aquela ambição pela gasolina. Neste, o 'tesouro' é a água, controlada e distribuída em cotas pelo ditador. Mas acho que no fundo, no fundo, o filme fala sobre o poder da 'comunicação' numa terra de volta a fase zero. O recomeço do próprio ato de se comunicar. De volta a forma básica, ao núcleo base do ser: a palavra. Seja através das atitudes daqueles que possuem um 'passado' e fazem uso dele para manipular os mais jovens, das páginas de um livro ou da tecnologia remanescente. Trata-se de uma boa produção, as vezes lento em demasia, com boas atuações e um enredo atemporal. Pensei comigo ao sair do cinema: como seria o mundo, pós-apocalíptico, se todos os mais velhos morressem e apenas crianças que não tiveram tempo de 'conhecer a vida', de criar referências, sobrevivessem? Seria este o caminho para a purificação do planeta? Ano um?
Abraços