segunda-feira, 7 de setembro de 2009

MEMÓRIA DE PAPEL

Estava eu em mais um passeio rotineiro de sábado pelas bancas de jornal atrás de alguma novidade, dos meus exemplares favoritos ou apenas simplesmente fazendo pesquisa visual quando me deparei com a publicação 'Computer Arts' – da qual gosto bastante – onde sua chamada de capa destacava a matéria sobre 'caderninhos de esboços', ou sketchbook, utilizados pelos artistas gráficos em seus processos criativos. Virando a página, ao ler o editorial escrito pelo diretor de redação Mário Fittipaldi, não hesitei em levá-la para casa.

Começa assim: 'Quem não tem memória faz uma de papel', dita por um personagem do escritor Gabriel García Márquez. Que legal isso! Em tempos onde ouvimos tanto a expressão 'memória virtual', é interessante falar sobre uma de papel. Acho que todos nós que fazemos uso do computador diariamente – softwares, lazer, pesquisa, jogos ou redes sociais - já viu um alerta que diz: 'Sua memória virtual está fraca'. A sua está? Você tem uma de papel?

Me vem a mente os grandes artistas de séculos atrás. Leonardo da Vinci anotava suas ideias de diversas naturezas, invenções, esboços, enfim, registros que vivem até hoje. Assim como poetas, músicos e escritores que deixaram seu legado também em anotações. Através da digitalização, temos acesso virtual aos acervos que até então só poderiam ser vistos nas bibliotecas e museus, mas nada é tão admirável quanto saber que, alí naquele material, tem o toque original do autor. Tem a sua história.

O que a matéria mencionada nos diz e nos mostra é que mesmo em dias 'virtuais', muitos profissionais fazem uso das anotações 'orgânicas'. Estes deixam seu rastro, seu traço. Fico imaginando como seria uma notícia, daqui há muitos anos, da descoberta de um material originalmente feito no computador: Encontrado o primeiro laptop utilizado pelo renomado artista gráfico em sua obra...Não é estranho? Como será isso? Um fóssil virtual?

Fui longe demais? Bem, no computador cristalizamos uma ideia, disponibilizamos com rapidez para um número sem limites de pessoas via internet e na impressão materializamos tudo isso. Agora, o que aquele caderninho guarda do que foi idealizado antes, é uma forma de revisitar tempos depois o que passou pela mente do criador. Coisas desconexas, fragmentos que deram origem a grandes realizações. Nossa, já ia me esquecendo de citar a 'memória de papel' das crianças!
O que seria das mães e dos pais sem os cadernos de desenhos dos seus filhos? E então, como está, ou melhor, onde está a sua memória?